domingo, 24 de março de 2013

Miojo, Palmeiras e ENEM

     
          Durante muito tempo falo para meus alunos (sou professor de Língua Portuguesa), falo pra eles sobre a importância de participarem do Exame Nacional do Ensino Médio e todo ano tenho que batalhar com o massacre que a mídia realiza contra a prova, que não valia pra nada até os primórdios dos anos 2000, mas que tornou-se de fundamental importância para qualquer brasileiro que tenha pretensões de estudar e não pagar por isso em nível superior.
         Primeiramente é fundamental ressaltar que o Estado deveria fornecer Educação (com E maiúsculo) para todas as pessoas que assim o queiram. Porque está na constituição, porque é um direito e porque um povo com acesso a educação é mais sabedor de um monte de coisas e por aí vai.
          Depois é também fundamental dizer que no mundo inteiro, não só no Brasil, apenas as melhores cabeças estão nas melhores faculdades, e não é discriminatório quando dizemos que nem todos estão interessados em aprender, algumas pessoas simplesmente não querem estudar numa universidade.
          Mas a questão não é o querer, é a oferta. Deveria ser oferecido a todos os que assim quisessem o direito a estudar, sem arcar com qualquer pagamento, em qualquer nível. Pelo menos no Brasil, país pouco afeito historicamente a livros, universidades, escolas. 
          O estado brasileiro tem uma dívida gigantesca com seu povo e isso se reflete em Tiriricas, Calheiros, ACMs, Bocas da garrafa, Zorras totais e muito mais.
          O ENEM é a prova que iguala as condições de acesso ao Ensino Superior gratuito, em universidades públicas federais ou particulares. 
      Podemos questionar todo um sistema que possibilita que faculdades fundo de quintal formem enfermeiros que injetarão café com leite na veia de senhoras doentes, ou que aceitem que os alunos hostilizem uma aluna apenas por esta usar um vestido por demais curto (mesmo que este tenha sido um bom negócio pra aluna no futuro).
          O que não podemos questionar é que através do ENEM milhões de alunos estão estudando, se graduando e se capacitando para um futuro melhor. E muitos deles em Universidades Federais (também com U e F maiúsculos). 
          Apenas quando passou a valer como acesso a universidades realmente de valor, começaram os achincalhes: 
*primeiro roubaram a prova;
*depois com cem ou cento e cinquenta cadernos de questões com problemas de impressão num universo de seis milhões; 
*mais a frente com um professor de uma escola particular roubando questões e repassando aos "seus" alunos; 
*este ano com Miojo e  hino do Palmeiras na redação.
          Tenho milhões de críticas ao governo federal, e muitas à falta de acesso à Educação de qualidade, mas acredito que o Exame Nacional do Ensino Médio é a melhor coisa que aconteceu à Educação brasileira nos últimos dez anos. 
          Muito melhor que a farsa da universalização do ensino, muito mais inclusor social que Bolsa Família ou qualquer outro projeto de distribuição de renda.
          Quem perde com o ENEM? Cursinhos particulares que cobram uma fortuna por mês para treinar alunos a passarem em uma prova que tem a função de excluir e massacrar com questões que perpetuam a decoreba, o acúmulo de entulho intelectual que será todo esquecido ao final do processo, ou até passar.
          Estes cursinhos colocam a fotinha dos aprovados em vestibulares em enormes outdoors e não noticiam que alguns ficam estudando nestes cursos bizarros por até cinco anos atrás de uma vaga de medicina. Alunos que entram em depressão porque gastam quase mil reais por mês e não conseguem fazer o impossível: decorar, decorar, decorar...
          No ENEM há fórmulas, mas estas fórmulas se esvaem quando o que existe é a valorização do aprendizado. Uma prova basicamente de leitura que tenta aproveitar todo o conhecimento adquirido do aluno como pré-requisito para o acesso a um curso superior em Federais do país inteiro. 
          É claro que quase duzentas questões mais uma redação não podem avaliar sozinhas a capacidade de um ser humano, mas é muito melhor que o sistema de indicação e entrevistas estadunidense, por exemplo. 
          Todo ano há denúncias de fraudes no sistema dos Estados Unidos, mas ninguém questiona o Estado ou a política educacional, questionam os imbecis que fraudam, que buscam privilégios, que procuram fazer da educação um balcão para seus negócios escusos.
          Engraçado que na ocasião do roubo da prova do ENEM o jornal procurado para a denúncia foi um jornal panfletário, conhecido apoiador do governo tucano paulista. Não estou insinuando nada. Ou estou?
          O fato é que participando do ENEM o aluno não precisa acertar tudo; de acordo com a avaliação ele poderá estudar até em universidades concorridas, lugares que até então de acesso restrito aos ricos. Os mesmo ricos que controlam os meios de comunicação, os mesmos meios de comunicação que dão tanta ênfase a boatos e pseudo-notícias: num universo de seis milhões de provas, três redações não são nada. E outra coisa, nos critérios de avaliação estão postos o que será considerado válido e o que excluirá a redação: 
         "Uma redação poderá ter a nota máxima mesmo tendo erros ortográficos", você que está criticando este fato, leu a apostila que o governo distribuiu com os critérios avaliativos?
         "A redação do ENEM será anulada apenas se tiver menos números de linhas que o indicado", ou "se atentar contra os direitos humanos". É claro que torcer pelo Palmeiras, hoje em dia, está além dos direitos humanos, mas isso não anula nenhuma redação do ENEM. Talvez de algum outro vestibular, não do Exame Nacional do Ensino Médio.
          Os jornalistas que pensam que têm o monopólio da opinião e nem sabem escrever um simples texto, não saberiam se posicionar em relação ao assunto, estão acostumados a cobrir o novo penteado do cachorro da Ana Maria Braga e pensam que estão fazendo uma crítica inteligente, criticando uma das poucas medidas, de fato, inteligentes, do governo federal.
          Contra os fatos não há refutação: conheço pessoas inteligentíssimas que nunca tiveram condições de frequentar a escola oficial obrigatória até o fim, fizeram o ENEM, foram aprovadas e estudam em Universidades Federais. Pessoas que jamais poderiam pagar, fizeram o ENEM e estudam em Universidades Particulares, algumas boas, algumas ruins, mas aí é onde deveria estar a crítica, no cômodo, não porta de entrada.
          Também conheço alguns riquinhos malditos que se sentem enojados com a presença de pobres ao seu lado em universidades, até então, de elite. Fazem barulho. São os alunos dos cursinhos particulares que fazem uma passeata com cem pessoas na Avenida Paulista contra o ENEM e tem a cobertura da mídia. 
          Já participei de passeatas com mais de cem mil pessoas na mesma Paulista e não houve nenhuma nota em jornal algum, quando noticiavam reduziam os cem a menos de cinco mil. Esta é a imprensa. O PIG - Partido da Imprensa Golpista. 
          Gente que jamais ficará satisfeita com a busca por igualdade social. O pobre pode estar na TV, no rádio, na cozinha fazendo a janta, na feijoada de quarta, mas nunca poderá estar sentado ao seu lado no banco da universidade.
          Daí as greves, daí o boicote à imagem do ENEM. Os meninos dos confins da periferia do fim do mundo não quererão sair de casa pra fazer uma prova que é uma fraude, mas a fraude é esta falsa opinião, que não é pública. Recomendo que leiam o livro "Chatô - o Rei do Brasil" de Fernando Morais, pra perceberem a quem compete a opinião de um jornal.
          E antes que alguém diga da minha posição petista, quero dizer que estou falando de educação, divisão de renda, revolução pelas mentes. Lembro que uma vez falei que queria fazer uma revolução na escola através de aprendizado, cultura e formação. Uma professora riu da minha cara. Pra gente assim ou pensa igual ou não é pensador. Patrulhas ideológicas.
          Difícil mudar o mundo sem as mentes, difícil mudar as mentes sem educação. O ENEM não é a solução, mas é uma das portas para esta. Destruir sua imagem, como  estão fazendo, é nocivo apenas para os jovens carentes que não tem acesso a uma segunda opinião e não tem outra forma de  entrada no Ensino Superior.
          Discorda do que digo? Faça o Exame em novembro, se inscreva no SISU, no ProUni e depois de cinco anos, formado, graduado e com um salário melhor me diga o que pensa a respeito.
          Ah é... Para ter acesso a alguns desses direitos você precisa ter estudado o Ensino Médio em escolas públicas. 
A redação do Miojo está boa, mas o desgraçado sacaneou ao final, como o ENEM avalia o todo e não a parte ela tirou 560.
       

6 comentários:

  1. Bacana seu texto, super concordo. Aqui em casa todo mundo, com o perdão da expressão, 'meteu o pau' no ENEM, falando que o sistema de avaliação deveria ser mais rigoroso... Porém não iria adiantar eu discutir com meu pai e minha mãe que só assiste JN. kkkk.. ;/ Abraaaaaaaaço.

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  2. Não é de hoje que a imprensa vem tentando descaracterizar o ENEM. É preciso avaliar os verdadeiros fatos. Para se ter uma ideia, a tão falada redação em que teve o hino de futebol do Palmeiras citada foi elaborada por um aluno que já está cursando medicina, Fernando Maioto Júnior. Ele mesmo declarou na revista Veja - ( veja bem ) - de que fez isso para certificar-se de que o exame não era mesmo sério. Mas o que não dá pra considerar séria é a imprensa brasileira quando veicula tal matréria mas não esclarece os critérios avaliativos para a correção. Pela quantidade de provas avaliadas e pelos critérios dessa avaliação isso não representa nada. Se o conteúdo da redação não fere os direitos humanos não há nada de mais. Aliás, acho até que mijo tem a ver de certa forma com imigração japonesa...
    Valeu, Maurão


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  3. Como diria Millor: o pior cego é o que vê TV.
    Também o que vê a Veja, lê a Folha...

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  4. Existem coisas que não se soluciona. Não tem jeito. O ENEM, além de representar vida inteligente nos vestibulares desse nosso Brasil, representa, acima de tudo, um fortíssimo mecanismo político, e este, é usado a torto e a direito pelos tortos e direitos. Ninguém que está conseguindo acesso às universidades através do ENEM está reclamando, exceto, os embonecados que gastam fortunas em escolas particulares e cursinhos para depois, ter de fazer uma prova na qual eles são obrigados a pensar ao invés de reproduzir as fórmulas que os professores "cantavam" para eles nessas escolas e, desta maneira, disputar "em pé de igualdade" com "essa gente marrom" uma mísera vaguinha que até então lhes estava "garantida" (vou parar de usar aspas). Isso então é uma crise institucional inventada pela imprensa??? Não é pra tanto. Existem falhas gravíssimas que devem ser apontadas e sanadas para que esta, no final das contas, consiga ser uma porta de entrada para TODAS as instituições superiores de ensino.
    Pra finalizar: eu tenho um pensamento bem particular de que redação, em qualquer tipo de concurso,vestibular, etc, é uma roleta russa. Acho impossível, por mais que se estabeleça todos os critérios avaliativos possíveis, que questões pessoais do avaliador não interfiram na avaliação. O cara acordou com a bunda descoberta, num quarto cheio de pernilongo com a mulher feia dele roncando do lado...pronto, a melhor redação do mundo ganha 500. O cara acordou, olhou pro lado e a Isis Valverde estava lá,semi-nua, falando que a noite foi ótima e que ela iria preparar um café da manhã caprichado para que eles consigam repor as energias gastas durante o sexo selvagem...pronto, qualquer receita de miojo ganha 900. Ou eu to errado?????
    Abraços.

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  5. "Há método na loucura", citando Shakespeare e usando aspas...
    Tem que haver método.
    Abraço!

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